Escolhidos pela Biblioteca e divulgados pelo Departamento de Ciências Sociais e Humanas, os textos seguintes serão lidos por toda a escola no dia 10 de dezembro, recordando o que ainda falta cumprir...
Fora
de mão
Pediram-me
para ser uma mão. Estranhei.
Deram-me
argumentos de que uma mão não vê, mas sente e formula uma visão pelo tato.
Assenti e assumi a pele, ironicamente, de uma mão.
Não
notei diferenças acentuadas, de facto, aquilo que eu analisava era uma mão
igual à que eu representava. Pediram-me então para adotar outro dos sentidos, a
visão. Assim o fiz. De novo as diferenças não eram assim tão grandes, apenas a
cor daquela mão era diferente da minha. Revelaram-me convictamente que aquela
mão não era de todo igual à minha. Para ser sincera não percebi o porquê, mas
também, não perguntei.
Continuei
a analisar. Usava também o meu corpo para perceber as ditas diferenças, e com
ele, todos os sentidos e funções atribuídas. Aquele corpo era igual ao meu.
Toquei-lhe. Disseram-me para não o fazer, mas fiz.
Declararam
que aquele corpo não o era, denominaram-no de “raça humana diferente”, cheguei
a associar a cães, mas aquela anatomia corporal era igual à minha, e eu,
definitivamente não era um cão. Aquele pobre corpo representava todos os outros
corpos de sua linhagem. Carregava um peso, uma angústia e uma certa revolta.
Comecei
aos poucos a identificar-me.
Aquela
silhueta estava ali, carregada de marcas de gerações passadas e atuais, como
ele, outros estavam ali com outro propósito, as suas almas foram tão
chicoteadas como o próprio corpo. Assim como eu, mas eu tinha apenas arranhões que
já tinham sarado e apenas deixavam marca para impedir o esquecimento. Algumas
feridas das chicotadas tinham sido estancadas com o tempo e continuavam a sarar
devagar. Ao longo dos tempos para cá, começaram a ser respeitados e menos
chicoteados, no corpo e na alma. Existências à volta de impedimentos de
integração social causados pela cor, sentimentos, origens, religião e
idealismos. Uma captura de pássaros igualmente livres, como todos os outros,
mas estão presos numa gaiola de preconceitos, discriminação e exclusão, e quem
os capturou apenas tem de abrir a porta da gaiola e deixa-los voar.
Texto de
Marisa Alves Pedro, 16 anos
O racismo contado em verso
A
propósito de racismo
Quero
contar-vos uma história especial
Encontramos
nela coragem, discriminação mas
Também
heroísmo.
Tudo
começou num dia fora do normal.
Estávamos
na aula de matemática
Já
o ano escolar ia a meio
Quando
um novo aluno veio
A
professora muito simpática
Disse-lhe
logo “sê bem-vindo, Wilson, vamos procurar o teu lugar”
Perguntou-nos,
por isso,
Quem
com ele faria par.
Ninguém
respondeu, o silêncio foi rei,
Perante
o colega negro, como direi?
As
cabeças cheias de preconceito e discriminação
Disseram
claramente ao colega que não.
Eu,
perante aquela triste situação,
Levantei-me
sorridente e contente
E
acenei com a mão.
“Senta-te
aqui ao meu lado
Que
estou um bocado atrapalhado
A
matemática é confusa
E
deixa-me sempre baralhado.”
Aquela
aula correu-me mesmo bem
Farto
de estar sozinho, sem a companhia de alguém
Gostei
muito de ter o Wilson ao meu lado
E
ele gostava de matemática!
Aquele
colega era um achado!
No
fim da aula é que os problemas começaram
E
os comentários “saltaram”
“Oh,
que parelha tão triste! Um é branco e nada sabe,
E
o outro negro é que lhe assiste?”
Quem
estas palavras dizia
Era
o Bruno de olhos verdes, loiro e de cabeça vazia.
Eu
e o Wilson passámos mal
Todos
os dias rejeitados
Mas
lá nos fomos ajudando e
Qual
não foi o nosso espanto quando eu,
“o
burro da turma” tive BOM a matemática.
Ajudado
pelo Wilson tinha feito um bom progresso
E
ao mesmo tempo uma grande amizade. Que sucesso!!
E
um dia tudo mudou
Como
nos contos de fadas
O
Wilson a caminho de casa
Teve
uma grande surpresa
O
tal colega Bruno, o da cabeça vazia,
Pela
rua ia
Nisto
nem vão crer:
O
pai do Bruno era negro
Facto
que ele tanto desejava esconder
A
partir daí tudo mudou
O
Bruno nunca mais gozou
E
deu-se uma mudança importante
Ele
pediu perdão e fez uma confissão:
“Tenho
com o meu pai uma má relação
Que
me impede de o amar
Mas
baralhei tudo isto e não me soube controlar.
A
dor que trago comigo
Por
não ser um filho querido
Leva-me
a rejeitar, discriminar.”
Texto
de Danilo Patrick de Souza, 15 anos
Sou como tu…
Nasces,
sobrevives
Cresces,
observas
Sou
como tu.
Optas,
decides
Queres,
trabalhas
Sou
como tu.
Amas,
sofres
Vives,
acreditas
Sou
como tu.
Somos
diferentes
Somos
iguais
Somos
filhos
Somos
pais
Sou
como tu.
Texto
de Catarina Mota de Azevedo Araújo, 13 anos
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