Filosofia






GUIÃO DE TRABALHO


Unidade Programática 2 : A ação humana e os valores
Unidade didática: Temas/problemas do mundo contemporâneo – DAC

Metodologia: ENSAIO FILOSÓFICO

Domínios a avaliar: Argumentação conceptualização e comunicação

Local de Trabalho sugerido: Biblioteca Escolar


Objetivos específicos: Compreender que os direitos das mulheres são direitos humanos; identificar as diferenças no estatuto da mulher ocidental relativamente ao das mulheres de outras culturas; tomar consciência das diferenças de papéis atribuídos à mulher e ao homem nos âmbitos familiar e profissional; compreender que o papel tradicionalmente atribuído à mulher constitui um entrave à sua emancipação; compreender que a igualdade entre homens e mulheres exige a abolição de preconceitos socialmente enraizados; refletir sobre a evolução histórica dos direitos das mulheres em Portugal; assumir uma atitude crítica perante o modo como é feita a divisão das tarefas domésticas entre homens e mulheres; refletir sobre o fenómeno da violência doméstica; compreender o ciclo da violência doméstica; conhecer o papel de algumas instituições sociais na tentativa de resolução dos problemas relativos à violência doméstica; compreender as vantagens da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres; refletir sobre direitos humanos; compreender o conceito de igualdade de género; Tomar consciência de estereótipos; desenvolver atitudes de discernimento crítico perante a informação; desenvolver práticas de exposição (oral e escrita) e de intervenção, aprendendo a apresentar de forma metódica e compreensível as ideias próprias ou os resultados de consultas ou notas de leitura; criar um produto mediático sobre um tema que integre as competências de comunicação, conceptualização e argumentação.











TRABALHO: “OS DIREITOS DA MULHERES COMO DIREITOS HUMANOS”

Atividade: Trabalho, preferencialmente, em grupo.

         Guião de trabalho


1.     Leia os seguintes documentos que seguem em anexo:  vídeo (mulheres muçulmanas, flor do deserto em https://www.youtube.com/watch?v=JhLIde_Vk7Y), as notícias 1, 2 e 3, e o doc. de Maria Rosário Carneiro, no site:
A partir da respetiva leitura responda às seguintes questões:
            1. Identifique o tema abordado nos respetivos documentos.
            1.1Dos factos expostos nos documentos indique os que mais ferem a sua sensibilidade, justificando.
            1.2 Indique os fatores que julga estarem na base destas situações.
            1.3 Identifique se estas situações configuram violações dos direitos humanos. Se sim identifique (o)s artigo(s).
             
            1.4 Indique as medidas que considera poderem ser adotadas pelos governos e pela  sociedade civil para tentar resolver esses problemas.
2.     Leia atentamente o documento “A escola secreta de Nasreen ou o livro “Eu,  Malala” da editorial Presença,  sobre o estatuto da mulher noutras culturas e refira diferenças culturais relativas às da cultura europeia/ocidental.
3.     Veja o filme “As Sufragistas” no seguinte site: https://www.youtube.com/watch?v=VTTy39nxGc4. Também pode requisitá-lo na biblioteca.
Explique de que forma este movimento contribuiu para a emancipação da mulher, na Sociedade Ocidental.

4.     Veja o seguinte vídeo “O que é uma mulher? Filósofa Simone de Beauvoir:
Explique o conceito de mulher segundo a filósofa Simone de Beauvoir.
5.     Leia o texto da Clara Ferreira Alves “ Strawberry fields forever”. Identifique o tema, o problema e os argumentos da jornalista e explicite a sua opinião.
6.     Leia o texto intitulado “A 1ª mulher portuguesa que votou”. Indique o nome dessa mulher, a data em que votou e se foi simples votar, tal como nos nossos dias. Justifique a resposta a esta última questão.
7.        Comente a seguinte afirmação: “Os direitos humanos das mulheres e das raparigas são parte inalienável essencial e indivisível dos direitos humanos universais”. Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher.
8.     Leia o documento “situação da mulher em Portugal” em https://www.eugeniorosa.com/Sites/eugeniorosa.com/Documentos/2020/9-2020-mulheres-8-marco-2020.pdf
Compare a relação entre o nível de escolaridade e o vencimento auferido entre homens e mulheres.
9.     Leia o texto de opinião “As mulheres portuguesas são parvas”, do Público. Explicite os argumentos apresentados pela jornalista que ajudam a compreender o título do texto.
10.                       Compare a composição do atual governo português com o sueco, em termos de número de lugares de Ministro ocupados por mulheres. Indique as respetivas funções e explicite a sua opinião sobre a referida composição.
Documento:


11.                       Explique, por palavras suas, o ciclo de violência doméstica  referido na APAV: https://apav.pt/vd/index.php/vd/o-ciclo-da-violencia-domestica
12.                       Explique as razões que levam algumas mulheres a não romperem com o ciclo de violência.
13.                       Refira os organismos ou instituições onde as mulheres vítimas de maus tratos podem pedir ajuda.
14.                       O crime de violência doméstica é um crime público. O que é que isto quer dizer.
15.                       Explique as implicações que a violência doméstica podem causar.
16.                       Realize um vídeo original com o objetivo de alertar a sociedade contra a violência doméstica (máximo 1 minuto).


Nota: A bibliografia para a realização do trabalho segue em anexo.

Uma vez que os alunos têm email, podem trabalhar no google Docs. Vão ao drive clicam em google Docs, clicam em partilhar, colocam os emails do grupo e trabalham em conjunto, quando estão em casa.



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Bibliografia - Doc Notícia 1

Jornal judeu ultra-ortodoxo apaga mulheres da manifestação de Paris
14/01/2015 - 14:34
Angela Merkel, Ewa Kopacz, Anne Hidalgo e Federica Mogherini foram deliberadamente retiradas da fotografia publicada pelo diário israelita HaMevaser.
A fotografia tal como foi publicada no HaMevaser DR




Um dos debates que por estes dias mais tem ocupado os meios de comunicação e as redes sociais é se somos ou não todos Charlie, e porquê. Mas há quem não se comova com a discussão. Em Israel, um jornal judeu ultra-ortodoxo decidiu, apesar dos aspectos muito particulares do momento, aplicar a sua linha editorial sem concessões e apagou todas as mulheres da fotografia dos líderes políticos na manifestação de domingo, em Paris.
O HaMevaser – cujo proprietário, Meir Porush, é um antigo membro do Parlamento – publicou na primeira página de segunda-feira uma fotografia adulterada em que a chancelar alemã, Angela Merkel, a primeira-ministra polaca, Ewa Kopacz, a presidente da câmara de Paris, Anne Hidalgo, e a alta-representante da União Europeia para Política Externa e Segurança, Federica Mogherini, as quatro mulheres que figuravam na imagem original, foram apagadas.
Não é a primeira vez que uma publicação dirigida por e para judeus ultra-ortodoxos retira as mulheres de fotografias colectivas. Em 2011, foi Hillary Rodham Clinton, então secretária de Estado norte-americana, que desapareceu da Situation Room da Casa Branca, juntamente com a directora de contraterrorismo, Audrey Tomason, na fotografia publicada pelo Die Tzeitung para ilustrar a caça ao homem de que foi alvo Osama Bin Laden e que culminou com a sua morte.
O New York Times explica que estes jornais “geralmente evitam imagens de mulheres por uma questão de modéstia, e o seu público-alvo é conhecido por riscar os rostos de mulheres nos anúncios dos autocarros e de as impedir de concorrer a cargos políticos pelos seus partidos”. Mas, dada a situação, e tal como a maioria dos muçulmanos se distanciaram publicamente das acções dos terroristas, também há judeus a fazê-lo neste caso. Mesmo em Israel.
“É muito embaraçoso que, numa altura em que o mundo ocidental está a marchar contra manifestações de extremismo religioso, os nossos extremistas encontrem uma forma de tomar conta do palco”, escreve Allison Kaplan Sommer no Haaretz, diário hebraico que se assume como liberal. A colunista lamenta a negação da importância das mulheres no mundo.
O trabalho de manipulação da imagem é “bastante desajeitado”, segundo o Mediaite, que identifica alguns dos problemas do resultado final. O site norte-americano nota que até a Presidente da Suíça, Simonetta Sommaruga, cujo perfil mal se percebe no original, à direita, foi retocada. As restantes mulheres foram cortadas e os homens aproximados, para encobrir a falta de pessoas. Um dos efeitos curiosos dessa acção é a aproximação do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e do Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas.
O ex-Presidente francês Nicolas Sarkozy, que está a ser ridicularizado nas redes sociais por ter quebrado o protocolo para se juntar à fila da frente da marcha, ficou na fotografia deturpada do HaMevaser.
A manipulação – que foi denunciada por um outro órgão de informação israelita, o Walla – já teve resposta de uma publicação satírica irlandesa, o Waterford Whispers News, que ainda na terça-feira pôs a circular a versão da fotografia de um “jornal feminista”: o grupo de líderes é reduzido a três pessoas – Federica Mogherini, Anne Hidalgo e Angela Merkel –, que ficam absolutamente sós na rua de Paris. O que levanta outra questão: o diminuto número de mulheres em lugares de destaque na cena política mundial.



consultado em 15/01/2015



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                                              Bibliografia - Doc Notícia 2





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                                              Bibliografia - Doc Notícia 3



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                                              Bibliografia - As mulheres portuguesas são parvas



As mulheres portuguesas são parvas
Por Maria Filomena Mónica
02/03/2005 -, público online
Quando casei, o que de mim se esperava, além da procriação continuada, era que passasse o dia a arrumar a casa, a cozinhar pratos requintados e a vigiar a despensa. Hoje, a estas tarefas vieram juntar-se outras. As mulheres modernas são também supostas ser boas na cama, profissionais competentes e estrelas nos salões.
Nos últimos tempos, fui entrevistada por vários jornais, os quais, suponho que devido à crise económica, me enviaram mulheres muito novas. Eram geralmente bonitas, espertas, altas, modernas e rápidas. Eis, pensei, a Nova Mulher. Inesperadamente, o final das conversas tendeu a escorregar para a dificuldade que elas encontravam na compatibilização entre o trabalho e a maternidade. Num caso, aconteceu mesmo ter eu descoberto estar a desempenhar o papel de psicanalista, dando conselhos sobre a forma como a jornalista em causa, que acabara de ter um filho, podia e devia reivindicar para si, sem se sentir culpabilizada, um maior espaço de autonomia.
 Suponho que o facto de ser mulher, mãe e avó convida a estas confissões imprevistas. Não me importei: as revelações das jovens serviram para me mostrar que as novas gerações femininas, pelo menos as da classe média, não têm a vida mais facilitada do que eu a tive há quarenta anos. Por um lado, as "criadas de servir", como antigamente lhes chamávamos, são hoje mais caras, por outro, a ideologia dominante sobre a função da mulher alterou-se menos do que eu pensava.
 É isto que um trabalho, publicado por Karin Wall, do Instituto de Ciências Sociais, e por Lígia Amâncio, do ISCTE, veio demonstrar. A quase totalidade dos portugueses (93 por cento) considera que, num casal, tanto o homem quanto a mulher devem trabalhar fora de casa, mas um número impressionante (78 por cento) diz que uma criança pequena sofre quando a mãe trabalha. Cerca de metade da população afirma que as mães se deveriam abster de trabalhar quando têm filhos com menos de seis anos. Ora, devido aos salários reduzidos da maioria dos trabalhadores masculinos, Portugal possui a mais alta taxa de emprego feminino da Europa, uma situação que só pode conduzir a que as portuguesas vivam em estado permanente de culpabilidade.
 Mas há mais. Os portugueses excedem-se verbalmente no seu amor pelas crianças: para 62 por cento, os indivíduos que não têm filhos levam uma "vida vazia". Ora, são estes senhores, que tanto dizem amar os filhos, que se não dão ao trabalho de lhes mudar as fraldas, de os levar ao médico ou de os alimentar. As mulheres portuguesas gastam três vezes mais horas do que os homens na lida doméstica: elas despendem, por semana, vinte e seis horas, eles apenas sete, o que dá uma diferença de dezanove horas semanais, uma média superior à europeia. As portuguesas continuam a ser exploradas, como se nada se tivesse passado desde o momento, na década de 1960, em que a minha geração ergueu a bandeira da emancipação feminina.

 Algumas das jovens, que responderam ao inquérito, declararam conformar-se com a distribuição do trabalho vigente, chegando a dizer que "nós nunca nos zangamos por causa das tarefas domésticas", continuando a lavar a roupa, a passar a ferro e a mudar fraldas, como se os filhos não fossem responsabilidade de ambos. Sei, por experiência própria, que é mais fácil fazer greve às tarefas domésticas do que ao tratamento dos filhos. Apesar das minhas resistências iniciais, acabei por admitir que existe um laço afectivo diferente entre a mulher, que teve de carregar um feto na barriga durante nove meses, e o homem que se limitou a depositar nos ovários um montinho de espermatozóides. Mas isto não explica a exploração a que as minhas compatriotas são sujeitas, não só pelos maridos, como por uma sociedade que continua a atribuir-lhe todos os males contemporâneos, do consumo juvenil da droga à anomia cerebral dos alunos.
 Nunca esperei que a situação fosse tão má quanto a que este inquérito revela. Na minha ingenuidade, pensei que, na História, havia domínios - sendo um deles a emancipação feminina - em que tinham verificado progressos. Depois de ler estes dados, tenho dúvidas. Algumas raparigas ainda parecem pensar que a sua única função no Universo consiste em desempenhar os papéis de esposas devotadas, seres paranoicamente ocupados com a limpeza do pó e mães tão excelsas quanto a Virgem Maria.
 De certa forma, o destino das raparigas na casa dos trinta ou quarenta anos corre o risco de ser pior do que o meu. Quando casei, o que de mim se esperava, além da procriação continuada, era que passasse o dia a arrumar a casa, a cozinhar pratos requintados e a vigiar a despensa. Hoje, a estas tarefas vieram juntar-se outras. As mulheres modernas são também supostas ser boas na cama, profissionais competentes e estrelas nos salões. Mas isto é uma utopia. Nem a mais super das supermulheres pode levar as crianças à escola, atender os clientes no escritório, ir à hora do almoço ao cabeleireiro, voltar ao escritório onde a espera sempre um problema urgente, fazer compras num destes modernos supermercados decorados a néon, ler umas páginas de Kant antes de mudar as fraldas do pimpolho, dar um retoque na maquilhagem, telefonar a três "babysitters" antes de arranjar uma, ir ao restaurante jantar com os amigos do marido, discutir a última crise governamental e satisfazer as fantasias sexuais democraticamente difundidas pelos canais de televisão. Estou a falar, note-se, de mulheres socialmente privilegiadas. A vida das pobres é um inferno sem as consolações de que as suas irmãs de sexo, apesar de tudo, usufruem.
 É por isso que a luta tem de continuar. Não sei se sou "femininista", nem me interessa debater a questão terminológica. Sei que sou contra todas as injustiças e, entre elas, contra a ideologia que nos quer manter encerradas numa Casa de Bonecas. Ao longo dos anos, tenho ouvido de tudo, incluindo mulheres que dizem estar contra a emancipação feminina. Pensei então que não valia a pena perder tempo com tontas. Mais madura, considero hoje que o melhor é retirar-lhes o direito ao voto, o direito ao divórcio e a protecção legal contra a violência doméstica. Se gostam de ser escravas, que o sejam. Acabou-se o tempo das contemporizações. Quem luta, tem direitos; quem se resigna, fica de fora.

Historiadora


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                                     Bibliografia - A primeira mulher portuguesa que votou

Carolina votou em 1911. Foi a primeira e a República mudou a lei para impedir o voto feminino


Carolina Beatriz Ângelo, à direita, com a correligionária da Associação de Propaganda Feminista Ana de Castro Osório, no dia das eleições para a Assembleia Nacional Constituinte. 28 de maio de 1911
ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA / HEMEROTECA MUNICIPAL DE LISBOA

As eleições para a Assembleia Constituinte da I República colocaram Portugal na vanguarda do movimento sufragista. Carolina Beatriz Ângelo, médica, viúva e chefe de família, foi a primeira mulher a exercer o direito de voto em toda a Europa Central e do Sul. Fez uma leitura ousada da lei, que os homens republicanos não foram capazes de prever, e recorreu para a Justiça para conseguir recensear-se. O juiz Castro proferiu uma sentença revolucionária e ela foi a única mulher a votar. Em 1913, a República mudou a lei e interditou o voto das mulheres. No Dia Internacional da Mulher, o Expresso recorda esta sufragista portuguesa

Jornalista

Morreu aos 33 anos, quatro meses depois de ter enfrentado um parlamento e um governo pós-revolucionário que queriam que o direito de voto permanecesse masculino. Combativa, dona de uma rara inteligência, aproveitou a recente mudança de regime, e a visibilidade mediática que as mulheres tinham conquistado nos últimos anos da Monarquia, para interpretar a lei eleitoral como nós a leríamos hoje.
A primeira lei eleitoral da I República, publicada a 14 de março de 1911, “manteve as restrições capacitárias dizendo que poderiam votar os cidadãos portugueses maiores de 21 anos, que soubessem ler, escrever ou os chefes de família, sem mencionar se esses cidadãos eram do sexo masculino ou feminino”, diz ao Expresso Nuno Severiano Teixeira, vice-reitor da Universidade Nova de Lisboa. Com base nisto, a Drª Carolina Beatriz Ângelo, que se licenciara em janeiro de 1902 na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, e era chefe de família porque ficara viúva em junho de 1910, tentou recensear-se. Os entraves foram muitos, mas ela não se amedrontou.
Há anos que travava os mesmos combates que os republicanos que estavam no poder, e iria lutar para que o novo regime fosse sinal de mais direitos e melhores condições de vida para mais de três milhões de mulheres portuguesas: salário igual para trabalho igual, direito ao voto, direito a administrar os próprios bens, proteção na família e maternidade, a par do direito à educação, já que a taxa de analfabetismo ultrapassava os 70% [para homens e mulheres].
Esta foi a bandeira içada no dia 5 de Outubro de 1910 na Câmara Municipal de Lisboa. E foi bordada por Carolina Beatriz Ângelo e por Adelaide Cabete

IMAGENS DO LIVRO "HERÓIS DO MAR - HISTÓRIA DOS SÍMBOLOS NACIONAIS"

Carolina era “apenas mais uma entre outras mulheres que pretendiam o voto, acreditavam na governação e aquelas palavras, sempre as palavras, seriam pouco depois postas à prova e contraditas pela prática política dos governantes”, refere o historiador João Esteves, autor de vários estudos sobre as primeiras feministas portuguesas e o papel das mulheres na I República.
Moderada, a médica ginecologista Carolina Beatriz Ângelo, defendia o direito ao voto com “restrições, ao contrário [da sua companheira] Maria Veleda, que queria o voto para todas as mulheres”, acrescenta Esteves.


No dia 25 de março de 1911, o vespertino “A Capital” deu destaque de primeira página à luta de Carolina pelo voto

HEMEROTECA MUNICIPAL DE LISBOA

O percurso de Carolina foi marcado pelo ambiente em que cresceu; o casamento dos pais é posterior ao nascimento do primeiro filho, o que atesta uma certa abertura de costumes, tal como o facto de terem permitido e patrocinado a inscrição da filha na faculdade de Medicina: “Na primeira década do século XX, foram muito poucas as mulheres que frequentaram o ensino superior”, diz Esteves. 


Ainda não era viúva há um ano, quando decidiu não abrir mão de uma promessa feita pelos republicanos quando eram oposição, e explorar a redação da lei eleitoral da autoria de António José de Almeida. É assim que entra numa cruzada “quase solitária, ainda que amparada pela recém fundada Associação de Propaganda Feminista e o reconhecimento das suas pares, seguramente não mais do que umas dezenas”, lembra Esteves: “Os meus ideais são mais avançados” mas “acompanho a República como medida transitória”, diz Carolina em maio de 1911, ao jornal “O Tempo”, ciente de que aquele era o momento de forjar um novo caminho para as mulheres do seu país.

A 25 de março, onze dias depois da lei eleitoral ser publicada, diz ao vespertino “A Capital” que não quer pedir ao governo “que introduza modificações na lei. De forma alguma. Nós propomo-nos tomar parte no sufrágio eleitoral, mas sem que para isso seja necessário alterar uma vírgula do decreto: “Conquanto não nos abra a porta, também nos não dá com ela na cara. Esse facto é que talvez o senhor não tenha notado e por isso se admira tanto. Pois leia a lei e verá. Encontram-se ali artigos e parágrafos para determinar quem pode ser eleitor e artigos e parágrafos para mostrar quem pode ser elegível; explica-se ali que tal e tal não pode votar porque é menor ou não tem folha corrida, e que tal e tal não pode ser eleito porque desempenha determinados cargos. O que, porém, ali se não diz é que tal e tal não pode ser eleito ou eleitor... pelo facto de ser mulher. Ora, se assim é, porque motivo hão de as mulheres ser excluídas da urna?”
.
O juiz que é um marco na luta do sufrágio feminino

No dia 4 de abril, Carolina entrega um requerimento que vai dirigido ao presidente da Comissão Recenseadora do 2.º Bairro de Lisboa para ser incluída no recenseamento em curso; o referido presidente nega, remete o pedido para o ministro do Interior, António José de Almeida.


Detalhe de uma carta escrita por Carolina Beatriz Ângelo à sua amiga Ana de Castro Osório, quando esta estava no Brasil
BNP

Privada da resposta que tanto queria, a 24 de abril Carolina faz entrar um recurso no Tribunal da Boa-Hora, ciente de que o desfecho poderia ser desfavorável. De acordo com a prática, foi sorteada a distribuição do processo... que foi entregue ao juiz João Baptista de Castro, da 1ª Vara Cível.
Quatro dias depois, a 28 de abril, Castro proferiu uma sentença que fez História. O acórdão foi favorável às pretensões de Carolina e de muitas outras feministas, ordenando que “ela fosse incluída no recenseamento em preparação, porque a lei eleitoral (...) estabelecia que eram eleitores elegíveis os portugueses maiores de vinte e um anos, residentes em territórios nacionais, soubessem ler e escrever e fossem chefes de família”, conta João Esteves. Ao referir-se a cidadãos portugueses, o juiz Castro considerou que a lei englobava homens e mulheres, “pois se o legislador tivesse intenção de as excluir tê-lo-ia manifestado de forma clara”.
Os legisladores republicanos que não queriam dar o voto às mulheres foram apanhados pela Justiça. Para evitar que houvesse mais mulheres a votar, mudaram a lei em 1913, fazendo entrar a expressão “cidadãos portugueses do sexo masculino”.


Carta de Carolina para a sua correligionária Ana, filha do juiz João Baptista de Castro
BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL

A decisão do juiz Castro ultrapassou fronteiras e Portugal foi notícia em quase toda a imprensa internacional. O jornal inglês “The Globe” destacou o voto de Carolina e mencionou o distintivo dos três cravos brancos, símbolo utilizado pelas sufragistas portuguesas. E a publicação “Votes for Women” publicou parte do acórdão na sua edição de 9 de junho.
A 28 de maio de 1911, Carolina votou na freguesia de São Jorge de Arroios, no poder republicano que quase a privara desse direito. Fez-se acompanhar por Ana de Castro Osório, filha dileta do juiz João Baptista de Castro, que era também marido de uma paciente de Carolina, e acompanhara o luto da médica sufragista desde a morte do seu marido, Januário Gonçalves Barreto Duarte.
Carolina e Januário eram primos; ele tinha ficado órfão muito cedo e foi casapiano. Um ano mais velho do que Carolina, era médico como ela. Casaram-se em 1902, e ele morreu súbita e precocemente a 23 de junho de 1910, sem ter tido o gosto de assistir à queda da Monarquia.
Para enfrentar a dor de ficar viúva aos 32 anos, Carolina dedicou-se mais ao consultório e à atividade maçónica e republicana. Sentia-se cada vez mais cansada e, talvez por isso, redigiu “uma declaração para ser enterrada civilmente, a qual seria tornada pública no ano seguinte aquando das respetivas exéquias”, conta Esteves.
Toma igualmente providências sobre o futuro da filha de oito anos, Maria Emília Ângelo Barreto, pedindo aos membros da sua família que lhe “sobrevivam, que se dispensem do convencional luto” e que não obriguem a menina a pôr luto pela mãe. Morreu aos 33 anos, “a 3 de outubro de 1911 pela 1 hora da madrugada, no regresso de uma reunião da Associação de Propaganda Feminista; sentiu-se mal durante a viagem de elétrico e faleceu, duas horas depois, de congestão, apesar de ter sido ainda assistida pelo Dr. Luís Baptista”, como se pode ler num texto de Dulce Borges e João Esteves. Não assistiu ao 1º aniversário da Implantação da República, mas foi pioneira na conquista do voto para as mulheres em Portugal e em toda a Europa Central e do Sul.
Em 1911, a Finlândia era o único país europeu que reconhecia o sufrágio feminino. No Reino Unido, a fundadora do Movimento Sufragista, Emmeline Pankhurst, só viu o governo britânico fazer algumas concessões no direito de voto das mulheres em 1918, como forma de agradecer o empenhamento feminino no esforço de guerra.

Este artigo foi publicado a 5 de Outubro de 2016


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                                     Bibliografia - A escola secreta de Nasreen


A escola secreta de Nasreen
Uma história verdadeira do Afeganistão

A minha neta Nasreen vive comigo em Herat, uma antiga cidade do Afeganistão, onde outrora floresceram as artes, a música e a educação. Mas depois chegaram os soldados e tudo mudou. As artes, a música e a educação desapareceram. Nuvens negras pairam agora sobre a cidade.
A pobre Nasreen fica em casa todo o dia, porque as raparigas estão proibidas de frequentar a escola. Os talibãs não querem que as raparigas estudem, como eu e a mãe de Nasreen fizemos quando éramos crianças.
Uma noite, vieram eles e levaram o meu filho, sem qualquer explicação. Esperámos dias e noites pelo seu regresso. Cansada de esperar, a mãe de Nasreen pôs-se, finalmente, a caminho, à procura dele, embora fosse proibido às mulheres e raparigas andar sozinhas pela rua.
Muitas luas passaram à minha janela enquanto eu e Nasreen esperávamos. Nasreen nunca falava nem sorria. Ficava sentada, à espera que o pai e a mãe aparecessem.
Eu sabia que tinha de fazer algo. Ouvi rumores sobre uma escola secreta para raparigas que ficava por detrás de um portão verde, num caminho perto da nossa casa. E queria muito que Nasreen frequentasse essa escola. Queria que ela conhecesse o mundo, que estudasse, como eu tinha feito. Queria que ela falasse de novo. Assim, um dia, Nasreen e eu apressamo-nos a chegar ao portão verde. Felizmente, nenhum talibã nos viu. Bati ao de leve. A professora abriu o portão e corremos para dentro. Atravessamos o recreio da escola – uma sala numa casa particular cheia de raparigas. Nasreen sentou-se ao fundo da sala. Quando a deixei rezei: “Por favor Alá, abre-lhe os olhos para o mundo.” Nasreen não falou com as outras raparigas.
Também não falou com a professora. E em casa manteve-se em silêncio.
Eu receava que os talibãs descobrissem a escola. Mas as raparigas eram espertas. Entravam e saíam a diferentes horas para não levantar suspeitas. E quando os soldados se aproximavam do portão, alguns rapazes desviavam a sua atenção. Ouvi falar de um talibã que bateu ameaçadoramente no portão, exigindo que o abrissem. Mas tudo o que encontrou foi uma sala cheia de raparigas a lerem o Corão, o que era permitido. As raparigas tinham escondido os seus
trabalhos, enganando assim o soldado. Uma das raparigas, Mina, sentava-se junto de Nasreen
todos os dias. Mas nunca falavam uma com a outra. Enquanto as raparigas aprendiam, Nasreen vivia fechada em si mesma. A minha preocupação agravava-se. Quando a escola fechou para as longas férias de inverno, Nasreen e eu sentávamo-nos junto ao fogão. Alguns familiares poupavam comida e lenha para nos dar.
Mais do que nunca, tínhamos saudades da mãe de Nasreen e do meu filho. Alguma vez viríamos a saber o que tinha acontecido?
No dia em que Nasreen regressou à escola, Mina sussurrou-lhe ao ouvido:
— Tive saudades tuas.
— E eu também — respondeu-lhe Nasreen.
Com aquelas palavras, as primeiras desde que a mãe fora à procura do pai, Nasreen abriu o seu coração a Mina. E sorriu pela primeira vez desde que o pai fora levado à força.
Pouco a pouco, dia após dia, Nasreen finalmente aprendeu a ler, a escrever, a somar e subtrair. Todas as noites mostrava- me o que descobrira naquele dia. Abriam-se, para Nasreen, as janelas naquela sala de aula. Conheceu e estudou os artistas, os escritores, os sábios e os místicos que, muito tempo antes, tinham tornado Herat importante.
Nasreen já não se sente só. O conhecimento que vai acumulando estará sempre com ela, como um bom amigo. Agora ela pode ver o céu azul para lá das nuvens escuras.
Quanto a mim, tenho a consciência tranquila. Continuo à espera do meu filho e da sua mulher. Mas os soldados nunca poderão fechar as janelas que se abriram para a minha neta.
Insha’ Allah.

Nota da Autora
O Fundo Internacional para as Crianças, uma organização sem fins lucrativos que se dedica a ajudar crianças de todo o mundo, contactou-me para escrever um livro baseado numa história verdadeira. Senti-me imediatamente atraída por uma organização no Afeganistão que fundou e apoiou escolas secretas para raparigas durante a ocupação Talibã, entre 1996 e 2001. O fundador destas escolas — que pediu anonimato — partilhou comigo a história de Nasreen e da sua avó. O nome de Nasreen foi alterado.

Antes de os Talibãs controlarem o Afeganistão:
70% dos professores eram mulheres;
40% dos médicos eram mulheres;
50% dos estudantes de Cabul eram do sexo feminino.

Depois da ocupação Talibã:
as raparigas estavam proibidas de frequentar a escola ou a universidade;
as mulheres estavam proibidas de trabalhar fora de casa;
as mulheres estavam proibidas de sair de casa sem um familiar do sexo masculino;
as mulheres eram obrigadas a usar a burca que cobria toda a cabeça e o corpo,
deixando apenas uma pequena abertura para os olhos;
não era permitido cantar, dançar ou lançar papagaios. As artes e a cultura foram
banidas na terra natal do famoso poeta Rumi. As esculturas colossais de Bamiyan Buddhas,
esculpidas na montanha, foram destruídas. Tinham começado anos e anos de isolamento e de terror. Mas também havia atos de coragem de cidadãos que desafiavam, de muitas formas, o regime Talibã, incluindo o apoio a escolas secretas de raparigas. A sua coragem nunca vacilou.
Jeannete Winter

Nasreen’s Secret School – A true story from Afghanistan
New York, Beach Lane Books, 2009 (Tradução e adaptação)


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                                     Bibliografia - Strawberry fields forever



Strawberry fields forever
Os homens europeus descem sobre Marrocos com a missão de recrutar mulheres.
Nas cidades, vilas e aldeias é afixado o convite e as mulheres apresentam-se no local da seleção.
Inscrevem-se, são chamadas e inspecionadas como cavalos ou gado nas feiras. Peso, altura, medidas, dentes e cabelo, e qualidades genéricas como força, balanço, resistência. São escolhidas a dedo, porque são muitas concorrentes para poucas vagas. Mais ou menos cinco mil são apuradas em vinte e cinco mil.
A seleção é impiedosa e enquanto as escolhidas respiram de alívio, as recusadas choram e arrepelam-se e queixam-se da vida. Uma foi recusada porque era muito alta e muito larga.
São todas jovens, com menos de 40 anos e com filhos pequenos. Se tiverem mais de 50 anos são demasiado velhas e se não tiverem filhos são demasiado perigosas. As mulheres escolhidas são embarcadas e descem por sua vez sobre o Sul de Espanha, para a apanha de morangos. É uma atividade pesada, muitas horas de labuta para um salário diário de 35 euros. As mulheres têm casa e comida, e trabalham de sol a sol.
É assim durante meses, seis meses máximo, ao abrigo do que a Europa farta e saciada que vimos reunida em Lisboa chama Programa de Trabalhadores Convidados. São convidadas apenas as mulheres novas com filhos pequenos, porque essas, por causa dos filhos, não fugirão nem tentarão ficar na Europa. As estufas de morangos de Huelva e Almería, em Espanha, escolheram-nas porque elas são prisioneiras e reféns da família que deixaram para trás. Em Espanha, este programa de recrutamento tão imaginativo, que faz lembrar as pesagens e apreciações a olho dos atributos físicos dos
escravos africanos no tempo da escravatura, olhos, cabelos, dentes, unhas, toca a trabalhar, quem dá mais, é considerado pioneiro e chamam-lhe programa de "emigração ética".
Os nomes que os europeus arranjam para as suas patifarias e para sossegar as consciências são um modelo. Emigração ética, dizem eles.
Os homens são os empregadores. Dantes, os homens eram contratados para este trabalho. Eram tão poucos os que regressavam a África e tantos os que ficavam sem papéis na Europa que alguém se lembrou deste truque de recrutar mulheres para a apanha do morango. Com menos de 40 anos e filhos pequenos.
As que partem ficam tristes de deixar o marido e os filhos, as que ficam tristes ficam por terem sido recusadas. A culpa de não poderem ganhar o sustento pesa-lhes sobre a cabeça. Nas famílias alargadas dos marroquinos, a sogra e a mãe e as irmãs substituem a mãe mas, para os filhos, a separação constitui uma crueldade. E para as mães também. O recrutamento fez deslizar a responsabilidade de ganhar a vida e o pão dos ombros dos homens, desempregados perenes, para os das mulheres, impondo-lhes uma humilhação e uma privação.
Para os marroquinos, árabes ou berberes, a seleção e a separação são ofensivas, e engolem a raiva em silêncio. Da Europa, e de Espanha, nem bom vento nem bom casamento. A separação faz com que muitas mulheres encontrem no regresso uma rival nos amores do marido.
Que esta história se passe no século XXI e que achemos isto normal, nós europeus, é que parece pouco saudável. A Europa, ou os burocratas europeus que vimos nos Jerónimos tratados como animais de luxo, com os seus carrões de vidros fumados, os seus motoristas, as suas secretárias, os seus conselheiros e assessores, as suas legiões de servos, mais os banquetes e concertos, interlúdios e viagens, cartões de crédito e milhas de passageiros frequentes, perdeu, perderam, a vergonha e a ética. Quem trata assim as mulheres dos outros jamais trataria assim as suas.
Os construtores da Europa, com as canetas de prata que assinam tratados e declarações em cenários de ouro, com a prosápia de vencedores, chamam à nova escravatura das mulheres do Magreb "emigração ética". Damos às mulheres "uma oportunidade", dizem eles. E quem se preocupa com os filhos?
Gostariam os europeus de separar os filhos deles das mães durante seis meses? Recrutariam os europeus mães dinamarquesas ou suecas, alemãs ou inglesas, portuguesas ou espanholas, para irem durante seis meses apanhar morango? Não. O método de recrutamento seria considerado vil, uma infâmia social. Psicólogos e institutos, organizações e ministérios levantar-se-iam contra a prática desumana e vozes e comunicados levantariam a questão da separação das mães dos filhos numa fase crucial da infância. Blá, blá, blá. O processo de seleção seria considerado indigno de uma democracia ocidental. O pior é que as democracias ocidentais tratam muito bem de si mesmas e muito mal dos outros, apesar de querem exportar o modelo e estarem muito preocupadas com os direitos humanos.
Como é possível fazermos isto às mulheres? Como é possível instituir uma separação entre trabalhadoras válidas, olhos, dentes, unhas, cabelo, e inválidas?
Alguns dos filhos destas mulheres lembrar-se-ão.
Alguns dos filhos destas mulheres serão recrutados pelo Islão.
Esta Europa que presume de humana e humanista com o sr. Barroso à frente, às vezes mete nojo.

texto da Clara Ferreira Alves sobre a Europa.                                  







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